sábado, 21 de dezembro de 2024

Hércules Florence e filhos: fatos que contribuíram para sua existência

 

 

 

Arnaud Florence, nasceu em 29 de abril de 1749, em Toulouse, capital do departamento francês Haute-Garonne. Quando rompeu a revolução francesa, Arnaud aderiu à sua causa e, em fevereiro de 1792, foi recrutado como cirurgião - mor do 3º batalhão de voluntários de Haute - Garonne que invadiu o Principado de Mônaco para proclamar a república. O príncipe Honoré III foi deposto em 19 de janeiro de 1793 e, no segundo semestre daquele ano, o nome de Mônaco foi mudado para Fort d’ Hercule. Graças à invasão de Mônaco, Arnaud conheceu a monegasca Marie Augustine de Vignalis e, no dia 02 de março de 1793, ele, aos quarenta e quatro anos de idade, e ela, aos vinte e cinco, se casaram. Tiveram seis filhos e o quinto deles recebeu o nome de Antoine Hercule Romuald Florence que ficaria conhecido, entre nós, como Hércules Florence. Assim, a revolução francesa contribuiu, indiretamente, para o nascimento de Hércules Florence, pois, se não fosse por ela, seu pai, Arnaud, não estaria em Mônaco, em 1793, e não conheceria Marie Augustine, sua mãe.

No dia 04 de janeiro de 1830, na Igreja da Sé em São Paulo, Hércules se casou com Maria Angélica Alvares Machado e Vasconcellos. Ficaram casados durante vinte anos e tiveram treze filhos dos quais cinco faleceram prematuramente. Em 1850, Hércules estava viúvo e com oito filhos. 

Hércules conheceu Maria Angélica porque fora hóspede de seu pai, Francisco Álvares Machado e Vasconcellos, em Porto Feliz, durante três meses, no ano de 1826.  Hércules conheceu Álvares Machado por intermédio do cônsul Georg Heinrich von Langsdorff que lhe ordenara seguir a Porto Feliz, alguns meses antes da partida da Expedição pelo rio Tietê.

Langsdorff conheceu Alvares Machado por sugestão do austríaco Karl von Engler que residia em Itu e o convencera a viajar pelos rios até Cuiabá e não por terra, como era seu projeto inicial para o trajeto da Expedição Científica sob sua chefia.

Hércules conheceu Langsdorff em 1825, no Rio de Janeiro, quando se apresentou como candidato à vaga de segundo desenhista da Expedição Científica financiada pelo Czar Alexandre I.

Hércules chegara ao Brasil porque, durante a adolescência, desejava percorrer o mundo e conhecer todas as suas regiões, conforme escreveria mais tarde: Li Robinson * e me apaixonei por viagens e aventuras marítimas: esse gosto me deu o da Geografia, e passei horas lendo um bom atlas que tínhamos. Não havia um ponto no globo onde eu não esperasse ir um dia... Foi esse sonho de adolescente que o levou a se tornar grumete e embarcar numa fragata para viagem de circum-navegação. A fragata saiu de Nice e depois de quarenta e cinco dias aportou, em abril de 1824, na baia de Guanabara. As circunstâncias fizeram com que permanecesse no Rio de Janeiro e desistisse de prosseguir a viagem marítima.

Durante a expedição, após ser contaminado pela malária, Langsdorff, a partir de maio de 1828, passou a sofrer de transtorno mental que no passado ficou conhecido como psicose palúdica. Essa condição mórbida, da qual não mais se recuperou, motivou o fim da expedição cujo plano, como escreveu Hércules, era vastíssimo, pois devíamos subir o Amazonas, o rio Negro, o Branco, explorar Caracas e as Guianas e regressar ao Rio de Janeiro, atravessando as províncias orientais do Brasil. Talvez tivéssemos também tomado outra direção, a do Peru e Chile, por exemplo. Não havia sido pelo governo da Rússia determinado ao Sr. Langsdorff nem tempo nem caminho certo.

O término prematuro da expedição contribuiu para um retorno antecipado de Hércules ao Rio de janeiro, em março de 1829. Esse foi um dos fatores que abreviou, sobremaneira, seu reencontro com Maria Angélica, em Campinas, para onde viajara, a convite de Alvares Machado.

Hércules era amigo do farmacêutico alemão Georg Krug, proprietário de farmácia e que, desde 1846, residia em Campinas. Seis anos depois, no segundo semestre de 1852, os pais de Georg chegaram de Hamburgo com cinco filhos e logo se juntaram ao primogênito, completando a família. Desta forma, Hércules teve a oportunidade de conhecer Carolina (Caroline Mary Catherine), uma das irmãs de Georg e, em 04 de janeiro de 1854, ele, aos 46 anos de idade, e ela, aos 26, se casaram. O casal teve sete filhos.

A vinda do naturalista Langsdorff ao Brasil em 1813, como cônsul geral da Rússia, se deu graças ao ato da Abertura dos Portos assinado pelo Príncipe Regente D. João no dia 28 de janeiro de 1808, em Salvador na Bahia. O navio, do qual Hércules era tripulante, não poderia ancorar na baía da Guanabara, se não fosse o decreto da abertura dos portos. 

D. João VI chegou ao Brasil, como Príncipe Regente, no início de 1808, fugindo do Imperador Napoleão Bonaparte.

Enfim, se as tropas de Napoleão Bonaparte não tivessem invadido Portugal, em novembro de 1807, o Príncipe Regente D. João não teria vindo ao Brasil que continuaria colônia de Portugal e com seus portos fechados ao comércio de nações estrangeiras. Isto significa que não haveria Expedição Langsdorff e não aportaria na Guanabara o navio trazendo Hércules que deixaria de conhecer Álvares Machado e sua filha Maria Angélica.

Para a sequência dos eventos, acima descritos, foram fundamentais os seguintes acontecimentos históricos: revolução francesa, no fim do século XVIII, invasão de Mônaco em 1793 e invasão de Portugal comandada por Napoleão Bonaparte, no início do século XIX. Deve-se considerar, também, que a existência dos filhos de Hércules se deve, basicamente, ao seu sonho, durante a adolescência, de percorrer o mundo.

                                  

                                     * A vida e as aventuras de Robinson Crusoé, autor Daniel Defoe

 

Referências

 

1 – Luret, William. De Monaco au Brésil: Hercule Florence, voyageur et inventeur oublié. Annales monégasques, 2006, n° 30, páginas 128, 130, 134, 139.

            2 - Thierry, Thomas. Ascendance et jeunesse monégasque d’un curieux du XIXe siècle Hercule Florence (1804-1879). Annales monégasques, 2017, nº 41, páginas 125 a 127 e 148.

         3 - Carelli, Mario. Hércules Florence, o novo Robinson. Comunicação apresentada no III Simpósio Internacional sobre a Expedição Langsdorff realizada em Hamburgo, 5 a 7 de setembro de 1990.

         4 - Bourroul, Estevam. Hércules Florence. São Paulo, Tip. Andrade Mello, 1901, páginas 21, 22 e 45.

5 - Gomes, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 4ª reimpressão. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, capítulos 5,7 e 8.

6 - Ribeiro, Arilda Ines Miranda - A educação feminina durante o século XIX. 2ª Edição. Campinas - SP: Editora Unicamp/CMU, 2006, páginas 17 a 30.

7 - Florence, Antonio - Minibiografia. In: IHF

8 - https://www.worldstatesmen.org/Monaco.htm

9 - http://www.chiefacoins.com/Database/Countries/Monaco.htm