No texto abaixo Hércules diz que por muito tempo lastimou estar vários anos no Brasil longe do Mediterrâneo e de Mônaco.
Por muito tempo lastimei haver contraído laços que me fixaram vinte e quatro anos longe desse mar; contradição de meu espírito, que me fazia sonhar com vastos oceanos a percorrer e praias desertas, ou habitadas por selvagens, a visitar, e que, mais tarde, tornado habitante do Brasil, me fazia ter saudades do Mediterrâneo, de seus portos próximos uns dos outros, de suas ilhas, de seus pequenos mares e, sobretudo, dos habitantes de suas praias. O oceano Atlântico só se me afigura hoje triste solidão, e os quadros de Raynal, esse livro deslumbrante que inflamava minha imaginação, mudaram o seu prestígio... Avista-se de Mônaco a Ilha da Córsega, mas somente de manhã e no fim do dia quando o tempo é sereno. Ficava satisfeito sempre que eu reconhecia de longe esta ilha montanhosa; sentia que respirava o mesmo ar que respirara Napoleão na sua infância; eu era, pois, o seu concidadão. Quando o dia se anunciava belo, o seu berço surgia do Mediterrâneo colorido das tintas da Aurora, e as altas montanhas da ilha pareciam gigantes postados na guarda do berço do Gigante da historia moderna. Hoje habito sob a mesma latitude onde ele morreu e sofro também os tormentos do exílio. Singular aproximação, que me faz por vezes refletir sobre a fortaleza de alma de que precisou Napoleão para sobreviver à maior glória que um homem podia adquirir. Então, eu me consolo um pouco de que eu, tão fraca criatura, não haja podido atingir à parte da glória que, durante vinte anos, se mostrara a meus olhos, em meu exílio... (traduzido por Estevam Leão Bourroul )
Fonte: Bourroul, Estevam Leão. Hércules Florence (1804-1879): ensaio histórico-literário. São Paulo, Tipografia Andrade e Mello, 1901.
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