sexta-feira, 21 de março de 2008

PRECURSOR DA FOTOGRAFIA MODERNA

Hércules Florence, quando chegou ao Rio de Janeiro, logo após a Expedição Langsdorff, passou a elaborar seu trabalho de pesquisa que denominou Zoofonia, pois descrevia o som produzido pelos diversos animais que conhecera durante a viagem. Pretendia tornar a Zoofonia um novo objeto de estudo da natureza e, para tal, seria imprescindível sua divulgação através de publicação impressa. Todavia, ao se deparar com a escassez de tipografias no país, se dedicou às artes de impressão, a fim de desenvolver um novo processo que tornasse mais fácil seu objetivo. Já residia em Campinas quando inventou a poligrafia, similar ao que seria mais tarde conhecida como mimeografia. E, graças ao apoio financeiro de seu sogro, Álvares Machado, se tornou proprietário da primeira tipografia do interior paulista. A preocupação de Florence com a descoberta de novas maneiras de imprimir perdurando por vários anos contribuiu para que inventasse a pulvografia em 1860. Foi, também, envolvido por tais pensamentos que concebeu a fotografia, em 15 de agosto de 1832. Na ocasião, se encontrava na varanda de sua casa, em Campinas, e lhe veio à mente a possibilidade de imprimir aproveitando a luz do sol. Brotou-lhe a idéia de fixar imagens obtidas através da câmera escura empregando uma substância que mudasse de cor pela ação da luz. Procurou pelo boticário Correia de Mello que lhe sugeriu o nitrato de prata e lhe ajudou a encontrar o termo photographie para tal invenção. Sua primeira experiência fotográfica se deu em 15 de janeiro de 1833, quando improvisou uma câmera escura usando uma pequena caixa coberta com sua paleta de pintor e colocando uma lente em seu orifício. Introduziu na câmera escura um pedaço de papel embebido em fraca solução de nitrato de prata e obteve, depois de quatro horas de exposição, a imagem do que era observado através da janela da sala de sua casa em Campinas. Havia conseguido, no entanto, uma imagem em negativo sobre o papel, pois o que deveria ser claro se tornava escuro e o que deveria ser escuro se tornava claro. Procurou, mais tarde, superar tal desafio, obtendo a impressão positiva da imagem. No entanto, como o papel sensibilizado continuava escurecendo, sob a exposição da luz, tentava evitar tal reação o lavando com água. Só mais tarde seria de seu conhecimento que o hidróxido de amônio, agindo como redutor do nitrato de prata, poderia impedir o escurecimento daquilo que fosse impresso. Em outra experiência, ao embeber uma folha de papel com nitrato de prata, a tornando sensível à luz, deduziu que, ao escrever em placa de vidro escurecido com fuligem, poderia fazer com que os raios solares atravessassem os claros marcados pelas letras e imprimissem uma cópia do que escrevera. Havia, finalmente, descoberto um novo método de impressão, como pretendia. E, usando o processo fotográfico, fez cópias obtidas por contato, sob a ação da luz solar, de diploma maçônico e etiquetas de farmácia em papel que havia tornado fotossensível. Prosseguiu com suas experiências até 1839 quando, em Itu, ao lado de amigos na frente da casa de Karl Engler, recebeu a notícia de que Daguerre havia, na França, descoberto o modo de fixar a imagem sobre chapa de metal. Ficou emocionalmente abalado e não mais encontrou motivo para se dedicar às suas pesquisas, pois entendeu que o processo fotográfico havia sido descoberto, antes que pudesse anunciar ao mundo sua invenção. No entanto, ao que parece, desconhecia, na ocasião, que a daguerreotipia, além de não permitir cópias, utilizava, para a captação das imagens dos objetos, uma máquina muito pesada e que não poderia ser transportada, facilmente. Enfim, conforme a tese de Boris Kossoy, ficou comprovado, historicamente, que, Hércules Florence, mesmo sem patentear sua invenção, fez experiências fotográficas em Campinas a partir de 1833, descobriu a fotografia, em seu processo moderno, antes de qualquer inventor mundialmente conhecido, foi pioneiro no registro do termo fotografia (photographie) e empregou o papel dois anos antes de Talbot.
Em resumo Hércules Florence, segundo Boris Kossoy:
• Foi um dos precursores mundiais da fotografia e pioneiro da América.
• Foi pioneiro no registro do termo photographie.
• Foi precursor no uso do hidróxido de amônio para auxiliar a fixação da imagem.
• Utilizou papel nos ensaios fotográficos antes de Talbot que historicamente é considerado o primeiro.
• Realizou com sucesso o processo fotográfico em 1833, em Campinas - SP.

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